sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Permanências

Mais um dia em que acordei a pensar em ti...

É estranho que a tua imagem,
a imagem que me ocorre quando te penso,
e é amiúde,
nunca é a de hoje,
a de agora,
a destes momentos negros...

A imagem que tenho de ti
é a que te sei desde sempre!

Não te vejo o sorriso oco,
não te vejo os olhos baços,
não te vejo os braços caídos,
não te vejo a alma seca,
não te vejo as lágrimas amargas,
não te vejo a sombra que te escurece os dias e as noites...

Vejo-te a ti
De cara em luz
e alma em fogo
De coração aberto
e sorriso escancarado
De mãos em punho em luta permanente
por momentos de alegria e de paz.

Vejo-te a ti.
Não como te vejo
mas como te sei.

Dina Cruz

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Chove

Chove.

Lá fora.
Dentro de nós.

Mas a chuva não cabe
no abraço que te ofereço.

Nesse...
Só o Sol.
Só o azul.

Dina Cruz

Pudéssemos nós...

Traz-me ocupada constantemente esta angústia de nada poder.
E de sermos tão pouco
E de estarmos sempre tão longe de sítio nenhum
E de a cada segundo pensar que posso não ter nada
e ainda assim perder tanto...
É tão doloroso para a alma
que chega a doer no corpo!

Há situações em que somos tão pouco.

Podemos nada!

Pudéssemos nós...

Dina Cruz

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Hoje foi a minha vez...
A minha vez de precisar que soubesses,
como sempre soubeste,
que o meu ombro é teu...
Que as tuas lágrimas
são também as minhas lágrimas...
Que tenho pena de que o teu sorriso de hoje
não seja o sorriso que te sei...

Não estás só nesse imenso deserto
em que se converteram os teus dias!
Não estás só!
Nunca estarás só!

Só estarás só,
se, expressamente, implorares:
DEIXEM-ME SÓ!

Dina Cruz

domingo, 7 de novembro de 2010

Só,
num quarto gelado e branco,
ofereceram-te, sem enlevo,
uma palavra amarga
corrosiva
que te doeu na pele
que te esfacelou a alma.

Não te deram um abraço.
Não te deram um sorriso.
Não te deram uma lágrima
que justificasse as tuas.

Apenas uma palavra
um vocábulo seco e acre
pedra-gume-lume-bala...

E abandonaram-te no branco gelado do quarto.
Só.

E um sabor amargo na boca
nas mãos,
na alma...

Arrancarão de ti
um pedaço de ti.
Mas arrancarão mais...
Arrancar-te-ão o sorriso pleno
dos dias azuis.

Aguardamos
com esperança e pressa
a Primavera
e o azul dos céus e dos dias...

Dina Cruz
Invade-nos o frio.
Cresce um Outono dentro de nós...

Partem aves saudosas
Tombam das árvores
pedaços rubros e dourados,
perdidos,
em voos fulminantes e dispersos...
Nuvens cinzentas encobrem o sol
e o azul dos céus...

Dentro de nós,
que sempre estamos contigo,
há também algo que parte:
mais um pedaço de alma...

E em ti,
apesar dos sorrisos e das graças,
há uma dor que escondes
apenas de quem não te sabe como eu.

Este Outono
é cinzento
é baço
é de partidas e de perdas...

Além do sol
Sabemos que algo mais se perderá
Como o rubro e o dourado das folhas
da grande árvore das nossa vidas...
Da tua vida!

Mas no fim do Inverno,
a Primavera voltará!
E trará de volta
as folhas
as aves
as flores
o sol
os frutos
os sorrisos abertos e doces de uma vida
que floresce e renasce
do frio cinzento dos próximos tempos...

Faremos uma festa
de abraços e de beijos
de canções e de sorrisos abertos
Seremos,
de novo,
felizes a valer.

Quando a Primavera chegar.
E ela sempre chega!

Dina Cruz